domingo, 4 de dezembro de 2016

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Ferreira Gullar - 1930/ 2016
 “Maio de 1964”

Tenho 33 anos e uma gastrite. 
Amo a vida
que é cheia de crianças,

de flores
e mulheres, 
a vida,
esse direito de estar no mundo,
ter dois pés e mãos, uma cara
e a fome de tudo, a esperança.
Esse direito de todos
que nenhum ato
institucional ou constitucional
pode cassar ou legar.


Mas quantos amigos presos!
quantos encárceres escuros
onde a tarde fede a urina e terror.
Há muitas famílias sem rumo esta tarde
nos subúrbios de ferro e gás
onde brinca irremida a infância da classe operária.
(Ferreira Gullar)

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