sábado, 21 de junho de 2014

O Diário do Poeta

*Nada funciona comigo e parece que a alma e o corpo estão em suspenso... 

*Sinto falta de tudo, de afetos, de ternura... de amor, de paixão, de gestos que me indiquem que estou aqui, que estou vivo e, apesar de tudo, vale a pena ir celebrando a vida. Dentro do possível. Dentro do que me parece justo.

* Só espero que meia dúzia de doidos me leiam agora e isso os toque.

* A eternidade é uma permanência da força que está dentro de nós.

 *... um dia, um desconhecido virá ao meu encontro na rua e dirá: conheço-te, sou  a tua imagem perdida uma noite dentro do espelho.


*... ergue-se para o espelho que lhe devolve um sorriso do tamanho do medo.

*(...) amanheço dolorosamente,  hoje vou correr à velocidade da minha solidão e  do medo: vou destruir todas as imagens onde me reconheço e passar o resto da vida assobiando ao medo.

*... sozinho atravessei noites e noites de medo.

*... é no silêncio que que melhor ludibrio a morte.

*...  já não me prendo a mais nada, ouço o rumor do vento: vai alma vai até onde quiseres ir.

*... dizem que a paixão o conheceu mas hoje vive escondido nuns óculos escuros.

*... passo o dia a observar os objetos e sinto o tempo a devorá-los impiedosamente.

*(...)  o que sobrou do adolescente rosto conhece a solidão de quem permanece acordado quase sempre estendido ao lado do sono pressente o suave esvoaçar da idade. 

*... dizem que à beira mar envelheceu vagarosamente sem que nenhuma ternura nenhuma alegria , nenhum ofício, o tenha convencido que é bom permanecer entre os vivos.
 * ... Desde que te conheço invade-me uma grande calma quando penso em ti.

*Sinto-me bem, disposto para as mais difíceis tarefas, para os mais complicados e demorados trabalhos.

*As noites cansaram-me, ia acabando comigo de vez na desordem e na ânsia de viver.

*... claro que continuo a sair à noite e a amar esse espaço fantástico que é a cidade, esta cidade que amo, mas tu estás nela também.

*A cidade mudou desde o instante em que nela entraste.

*Já não percorro a noite numa angústia que se esquece e anula na bebedeira, ao nascer do dia.

*Deixei de beber,  tenho levado uma vida bastante regrada.

*Deixei de andar por aí a ver se alguém me pega ou se eu pego em alguém. Acabou.

*Tenho-te e sinto uma felicidade estranha a dominar-me.

*(...) e trabalho calmamente, com vagar, e avanço sem ser aos tropeções.

*Leio e releio o que escrevo. tudo se torna, de texto em texto, mais preciso, mais próximo do que penso

*Escrevo somente (como de resto sempre fiz) o que me dá gozo e ao mesmo tempo me perturba.

*Por isso odeio tanto reler-me. Sinto-me perturbado. O que ficou escrito foge-me, parece já não me pertencer, no entanto, sei que estou ali, por trás de cada texto escrito.

*Sinto que são ainda parte integrante de mim - raramente me consigo desligar (friamente) do que escrevi, mesmo que o tempo tenha tentado apagar as motivações que me levaram, na altura, a escrever o que ficou escrito.

 *... Sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste silêncio, e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo.


* Sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de acabar comigo mesmo.  A dor de todas as ruas vazias.
 
“Ele adentra em nossa paisagem, testemunha incorruptível da comédia humana, fotógrafo atento de nossos gestos trêmulos, de nossa hesitação em viver com toda lucidez”. (Pascal Thuot)
 (Al Berto Raposo P. Tavares - 1948/ 1997 - Escritor Português)
 Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

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