domingo, 16 de outubro de 2011

Ψ personalidades dominadas pelos instintos


Ψ ADIÇÃO A DROGAS: A palavra ADICÇÃO insinua a urgência da necessidade e a insuficiência final de todas as tentativas de satisfazê-la. Existem adictos sem drogas (dependentes de comida e outros). O que difere as drogas de outras adicções é o seu efeito químico. Mas o que vai determinar a patologia enfim, é a estrutura psicológica do paciente.
A busca primeira é repor o que fica perdido, repor a incompletude com objetos ideais, com coisas substitutas. Tenta-se a defesa da angústia com um objeto postiço, procurando-se encontrar uma peça móvel que supra esta incompletude. Esta busca por coisas que possam tapar este buraco, impreenchível, pode-se tornar intensa.
As drogas, o álcool, os remédios, a comida, os jogos, as compras... constituem promessas irrecusáveis de recuperar esta fenda. A perda irreparável imposta pela realidade torna-se precisamente a perda destes objetos substitutos. A ausência do objeto é intolerável, produz abstinência e angústia. O mercado sabe muito bem tirar proveito desta falha humana. Fornece substitutos, escravizando o consumidor. Os efeitos que os drogadictos buscam são sedativos ou estimulantes. O adicto é aquele para quem o efeito de certa droga tem significado sutil, imperativo. Ele passa a depender deste efeito, dependência esmagadora a ponto de anular todos os demais interesses. Todos esses desejos vão sendo substituídos pelo "desejo farmacológico."

Esses indivíduos apegam-se a toda oportunidade de fugir com mais presteza da dor, sofrimento e frustrações. A droga ingerida via oral remete ao estádio arcaico do desenvolvimento libidinal antes de qualquer organização, ou seja, a orientação oral do bebê que pede gratificação sem capacidade de troca, pois neste estádio não se tem uma construção de realidade que permita o dar e receber.
Ao se constituir como sujeito, ao ocupar um lugar no discurso, o falante esvazia o objeto. Lacan dá o exemplo do lactente quando diz: é a criança que se desmama, é a criança que se separa do peito, na medida em que se constitui sujeito. Podemos pensar que é o usuário que dispensa a droga, que não adianta separá-lo da droga se ele a quer. Como a criança de peito, que busca somente a satisfação da nutrição, isto esmaga a demanda de amor em relação à mãe. Não é a solução do desejo. Sua função é a de satisfação da necessidade. O desejo é outra coisa. Os programas relativos a drogadição deveriam apontar, então, para o sujeito.já a droga via seringa, como qualidade simbólica genital remete ao prazer que o indivíduo obtém pela pele, sendo de índole passivo-receptiva.
A droga eleva a autoestima, e enquanto durar esta exaltação as agitações eróticas e narcísicas são supridas. SIMMEL, fala em "mania artificial", a exaltação produzida pelas drogas. Observa-se que nas fases finais da doença os adictos alternam períodos de exaltação e "depressão do dia seguinte", que é o equivalente da alternância entre a fome e a saciedade do bebê ainda psiquicamente indiferenciado. No final a agulha é usada menos pelo prazer e muito mais pela proteção (inadequada) contra uma tensão intolerável, que se relaciona com a fome eo sentimento de culpa.A fantasia de imortalidade, a certeza da indestrutibilidade do corpo, de que o corpo não se estraga, induz o adito a licenciosidades possíveis e impossíveis para testar limites (?) .
Não se trata, nesta idéia, de uma conformação das escolhas dos gozos, ao contrário, o sujeito fissurado já está conformado. Ele não tem mais escolha. Não se trata somente de um epsódio obsessivo, mas principalmente de uma exclusão do real da morte, o que autorizaria a banalização de doenças. Isso ocorre, nas rodas de seringas, onde a circulação de restos de sangue e de secreções abre possibilidades de contaminação. Então, paga-se com o corpo.

PSICOTERAPIA NAS NEUROSES IMPULSIVAS E NAS ADIÇÕES: Admite-se que o tratamento Psicoterapêutico deve ser tentado sempre que possível. Se se deixar inalterar a disposição pré-mórbida do adicto após a retirada da droga, o paciente não tardará a sofrer a recaída. A Psicoterapia não combaterá o EFEITO QUÍMICO da droga, mas o desejo mórbido de ficar inebriadamente exaltado e eufórico.
Quanto mais recente a ADIÇÃO, melhor o prognóstico.
Já em outras formas de comportamento impulsivo o prognóstico vai depender primeiro dos mesmos fatores que influem nas perversões e segundo, da forma porque a intolerância à tensão responde ao tratamento.
 Faz-se necessário aumentar a consciência da doença no paciente e reforçar-lhe o desejo de cura antes de iniciar a Psicoterapia propriamente dita. Lacan fala da estrutura subjetiva enquanto nó borromeano (1976 - 1977).
É a partir do corte deste nó que a estrutura pode ser analisada. Este corte faz cair o objeto a e possibilita ao gozo entrar no discurso. Trata-se, então, de mudar de posição para constituir um sujeito em um significante para outro significante, e não mais para um objeto.
Quando se toma um sujeito em análise, toma-se-o pelo seu discurso; portanto, o que está em análise é efeito de discurso. O corte do nó, por sua vez, possibilita que o gozo entre no discurso, porque ocorre uma mudança de registro. Muda a condição de escuta do analisando, amarrando-se de outro jeito. Nesta perspectiva, o que acontece nas adições é a busca da totalidade, da solução imediata, que dispensa o falante de confrontar-se com o desejo, pois o que ele não quer é, justamente, pagar o preço da castração. [...] temos o discurso analítico que, quando se aceita entendê-lo como o que é, se mostra ligado a uma curiosa adaptação porque, se é certa esta história de castração, quer dizer que no homem a castração é o meio de adaptação à sobrevivência" (Lacan, 1971-1972).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

 FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses - Livraria Atheneu - Rio de Janeiro - São Paulo - 1981
FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável. In: ______. Ed. Standart brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Ed Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro, 1974.
LACAN, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: ______.
Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. ________. As psicoses.

O Seminário III. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
Adão Luiz Lopes da Costa, *DROGAS. PAGAR COM A CARNE? *
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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