domingo, 4 de setembro de 2011

sobre a força selvagem da alma da mulher

- A Autora (com Doutorado em Psicologia Etnoclínica, Grupos e Tribos), estudando lobos 'canis lupus e canis rufus' assim refere:
"A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção".  
- E prossegue: "Não é coincidência que os lobos e coiotes, os ursos e as mulheres rebeldes tenham reputações semelhantes... compartilham arquétipos instintivos que se relacionam e, têm a reputação de serem inatamente perigosos, além de vorazes".
- "... tive a sorte de crescer na natureza: uma loba matou um de seus filhotes que estava mortalmente ferido. Para mim foi como uma dura lição sobre a compaixão e a necessidade de permitir que a morte venha aos que estão morrendo".

 - (...) lobos e as mulheres são gregários por natureza, intuitivos, fortes, preocupados com os seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. - as duas espécies foram perseguidas, sendo-lhes falsamente atribuído o fato de serem trapaceiros e vorazes...
 - foram alvo daqueles que prefeririam arrasar as matas virgens bem como os arredores selvagens da psique, erradicando o que fosse instintivo...
 - a força selvagem da alma da mulher exige que ela fique em estado de alerta, ela não poderá subsistir de verdade se sorver a vida em pequenos goles.
 - sagrado e sensual vivem muito próximos um do outro na psique feminina, no sagrado, no sexual, há sempre uma risada selvagem à espera, o riso é um lado oculto da sexualidade feminina: ele é físico, revitalizante, excitante, um verdadeiro amor sensual que voa solto e que vive, morre e volta a viver da sua própria energia.
 - as mulheres foram infantilizadas e tratadas como propriedade, mantidas como jardins sem cultivo... mas felizmente sempre chegava alguma semente trazida pelo vento; a dança mal conseguia ser tolerada e por isso elas dançavam na floresta;
 - um traje ou o próprio corpo alegre aumentava o risco de ela ser agredida ou de sofrer violência sexual.
 - por vezes um poema ou uma história soa tão perfeito que faz a mulher recordar a substância da qual foi feita....
 - são esses vislumbres fugazes, originados tanto da beleza quanto da perda, que nos deixam tão desoladas, tão agitadas, tão ansiosas que acabamos por seguir nossa natureza selvagem.
 ... e com criatividade a vida floresce; seus relacionamentos adquirem significado e saúde; seus ciclos de sexualidade, criatividade, trabalho e diversão são restabelecidos; elas deixam de ser alvos para as atividades predatórias dos outros;
- tendo a Mulher Selvagem como aliada, afirma-se a intuição; como noite estrelada, fitamos o mundo com milhares de olhos.
 - felizmente, por mais que seja humilhada, proibida, silenciada, podada, enfraquecida, torturada, rotulada de louca, a mulher pode voltar à sua origem, se assim se propuser; (...) a ausência desta força instintiva primitiva faz a mulher árida, cansada, frágil, deprimida e confusa; ela se queixa de estar amordaçada, desestimulada, assustada, sem inspiração, sem ânimo, impotente, incapaz de realizações, acaba por escolher parceiros, empregos ou amizades que lhe esgotam a energia;
- a mulher foi feita para lutar, criar vida e parir; carrega consigo os elementos para a cura; dispõe do remédio para todos os males.
 - ela carrega histórias e sonhos, palavras e canções, signos e símbolos; (...) é a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. - (...) é o arquétipo da musa que estimula os humanos no linguajar dos sonhos, da paixão,do encantamento, da poesia; ela é quem se enfurece diante da injustiça.
- a vida sombria ocorre quando escritoras, pintoras, bailarinas, mães, cientistas, místicas, estudantes, param de escrever, de pintar, de dançar, de cuidar dos filhos, de pesquisar, observar, aprender, praticar;
 - quando quem cria pára, a energia é desviada naturalmente para o mundo oculto; - quando a mulher percebe que não pode se dedicar abertamente àquilo que deseja, ela começa a levar uma estranha vida dupla, simulando um comportamento à luz do dia, agindo de outro modo quando tem a oportunidade;
 - quando a mulher começa a arrumar a sua vida para que caiba inteira num pequeno embrulho, tudo o que consegue é forçar toda a sua energia vital para o lado da sombra, ela não está bem;
 - por fora, ela parece se contentar em usar chapéus e ouvir seu marido insípido reclamar da monotonia da vida... a mulher pode ser educada e até mesmo cínica por fora, enquanto sofre de uma hemorragia interna.
 - ter uma vida secreta porque a vida real não tem espaço suficiente para vicejar é prejudicial à vitalidade da mulher. 
 - mulheres famintas e em cativeiro escondem todo o tipo de coisa: músicas e livros proibidos, amizades, sensações sexuais, sentimentos religiosos;
 - elas escondem pensamentos furtivos, sonhos de revolução; escondem dentro de casa um tesouro; tiram furtivamente o tempo para escrever, para pensar, para a alma;
 - elas escondem um espírito no quarto de dormir; um poema antes do trabalho; um carinho ou um abraço quando ninguém está olhando;
 - para escapar desse caminho polarizado, a mulher tem de abandonar a simulação; - esconder uma vida interior falsa nunca funciona;  
- ela explode, aí é a desgraça para todos; ela tem sonhos vigorosos, mas continua a lutar em silêncio; 
 - é melhor que despertemos, que nos levantemos, por mais caseira que seja nossa plataforma, e vivamos com a maior intensidade possível, deixando de lado a ocultação de falsos substitutos;
 - é fatal não ter uma confidente, não ter um guia, não ter nem mesmo uma torcida ínfima; 
 - é difícil ocultar fragmentos de vida desse jeito, mas as mulheres o fazem todos os dias;
 - quando a mulher se sente obrigada a viver às ocultas, ela está pondo para funcionar um modo de subsistência mínima;
 - ela oculta a vida para que "eles" não ouçam, quem quer que "eles" sejam na sua vida;
- superficialmente, ela aparenta desinteresse mas, sempre que surge uma réstia de luz, sua alma esfaimada dá um salto, persegue a forma de vida mais próxima, alegra-se, dá coices, avança loucamente, dança como uma boba, fica exausta e depois tenta se esgueirar de volta à cela sombria antes que alguém perceba sua ausência;
 - as mulheres infelizes no casamento agem assim;
 - as mulheres forçadas a se sentirem inferiores agem assim;
  - as mulheres cheias de vergonha, as que temem ser punidas, expostas ao ridículo ou à humilhação agem assim;
 - as mulheres com instintos feridos agem assim;
 - esconder o que se faz só é bom para a mulher no cativeiro se ela esconder o que for certo, só se o que ela esconder for exatamente o que a levará à libertação;
  - no fundo, o ato de esconder fragmentos de vida que sejam corajosos, benéficos e que dêem satisfação faz com que a alma fique ainda mais determinada a erradicar a mentira para ter a liberdade de viver a vida abertamente como bem lhe aprouver;
 - há algo na alma selvagem que não nos permite sobreviver para sempre com migalhas; - porque na realidade, é impossível para a mulher que luta pela conscientização respirar um pouquinho de ar puro e se contentar com isso só;
 - embora você procure continuar só com um pouquinho de ar ou sem ar nenhum, os seus pulmões parecem querer gritar, e alguma força imperativa faz com que você acabe inspirando o máximo de ar possível.
Trechos do Livro: Mulheres Que Correm com os Lobos
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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