quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ψ "a fome e o amor movem o mundo." (Schiller)

Ψ O MAL ESTAR DA CIVILIZAÇÃO - Freud
- Segundo Freud a fome e o instinto visam preservar o indivíduo. O amor se esforça na busca de objetos, sua função é a preservação da espécie.
- Assim refere Freud: " ... a evolução da civilização se dá entre EROS e MORTE, entre o instinto de vida e o instinto de destruição, tal como ela se elabora na espécie humana. A evolução da civilização pode ser descrita como A LUTA DA ESPÉCIE HUMANA PELA VIDA."
(... ) um desses instintos objetais, o instinto sádico, destacou-se pelo fato de o seu objetivo estar muito longe de ser o amar. No sadismo a afeição é substituída pela crueldade. E o masoquismo o instinto dirigido para dentro. Então a neurose é o resultado da luta de autopreservação e as exigências da libido, luta da qual o ego sai vitorioso, ainda que o preço seja graves sofrimentos e renúncias.
- Freud adota o ponto de vista de que a inclinação para a agressão constitui no homem uma disposição instintiva original e autosubsistente e é o maior impedimento à civilização.
- Ele indaga: "por que nossos parentes (os animais) não apresentam uma luta cultural desse tipo? Não sabemos. Sabe-se que as abelhas, as formigas, batalharam milhares de anos para chegarem às instituições estatais, organização, distribuição de funções pelas quais hoje admiramos, mas nossa condição atual diz que não sentiríamos felizes em quaisquer desses estados animais".
- Outra questão: QUAIS OS MEIOS QUE A CIVILIZAÇÃO UTILIZA PARA INIBIR A AGRESSIVIDADE QUE SE LHE OPÕE, TORNÁ-LA INÓCUA OU LIVRAR-SE DELA?
Freud enfatiza que a agressividade é introjetada, internalizada, ela é dirigida para o próprio ego. A tensão entre o severo SUPEREGO e o EGO, que ela se acha sujeito é chamado de SENTIMENTO DE CULPA (expressa-se como uma necessidade de punição), "... talvez toda neurose oculta uma quota de sentimento inconsciente de culpa, o qual por sua vez, fortifica os sintomas, fazendo uso deles como punição."
(...) Assim como um planeta gira em torno de um corpo central enquanto roda em torno de seu próprio eixo, assim também o indivíduo humano participa do curso do desenvolvimento da humanidade, ao mesmo tempo que persegue o seu próprio caminho de vida.
- O indivíduo volta-se para a felicidade pessoal e quer se unir com outros seres humanos. O individual e o cultural estão em constante luta (instintos primevos de EROS e MORTE).
- Freud refere: "Por uma ampla gama de razões, está muito longe de minha intenção exprimir uma opinião sobre o valor da civilização humana. Esforcei-me por resguardar-me contra o preconceito entusiástico que sustenta ser a nossa civilização a coisa mais preciosa que possuímos ou poderíamos adquirir e que seu caminho necessariamente conduzirá à ápices de perfeição inimaginada."
Ainda, (...) "posso pelo menos ouvir com indignação o crítico cuja opinião diz que quando alguém faz o levantamento dos objetivos do esforço cultural e dos meios que este emprega, está fadado a concluir qua não vale à pena todo esse esforço e que seu resultado só pode ser um estado de coisas que o indivíduo será incapaz de tolerar.
Minha imparcialidade se torna mais fácil para mim na medida em que conheço muito pouco a respeito dessas coisas. Sei que apenas uma delas é certa: é que os juízos de valor do homem acompanham diretamente seus desejos de felicidade, e que, por conseguinte, constituem uma tentativa de apoiar com os argumentos as suas ilusões. Acharia muito compreensível que alguém assinalasse a natureza obrigatória do curso da civilização humana que dissesse, por exemplo, que as tendências para uma restrição da vida sexual ou para a instituição de um ideal humanitário à custa da seleção natural foram tendências de desenvolvimento impossíveis de serem desviadas ou postas de lado, e às quais é melhor para nós nos submetermos, como se constituíssem necessidades da natureza.
(...) assim não tenho coragem de me erguer diante de meus semelhantes como um profeta; curvo-me à sua censura de que não lhes posso oferecer consolo algum, pois, no fundo, é isso que todos estão exigindo, e os mais arrebatados revolucionários não menos apaixonadamente do que os mais virtuosos crentes".

- Concluindo, Freud enfatiza que a questão fatídica para a espécie humana seria saber até que ponto, seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida quotidiana causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição. Talvez, precisamente com relação a isso, a época atual mereça um interesse especial. Os homens adquiriram sobre as forças da natureza um tal controle, que, com sua ajuda, não teriam em se exterminarem uns aos outros, até o último homem. Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua atual inquietação, de sua infelicidade e de sua ansiedade.

(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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