domingo, 5 de junho de 2011

Sobre Louise Labé - L' Amour et la Folie



- A voz de Louise Labé não se identifica com a de nenhum outro autor,ela impõe uma chave de leitura que é toda própria.
- Seu estilo é mais poético que filosófico, próximo ao delírio, e adota um tom oracular, o Amor é fascinatio, enfeitiçamento, faísca de Loucura.
- O argumento da Disputa de Loucura e de Amor é tão interessante que, La Fontaine o apresentou como fábula, sob o nome de L’Amour et la Folie.
- Na Bibliothèque Française, de Du Verdier, e no Dictionaire, de Bayle, vê-se Louise Labé asperamente designada pela qualificação de cortesã lionesa. Cabe lembrar as qualidades femininas vigentes na época: beleza-inteligência-virtude, como a escritora “é bela, instruída, ativa, logo, é uma cortesã, sua virtude é colocada em dúvida.
- O sabido é que Louise circulou livremente nas cortes de seu tempo e gozou de grande liberdade de costumes, que se refletiu em seus envolvimentos amorosos.
- Dentre seus entusiasmados amores, destaca-se um possível affair com Henrique II, Rei da Inglaterra.
- Contra as censuras que lhe foram dirigidas, em seu último soneto sugeriu às Damas que a criticavam que também se entregassem ao amor:
Não censureis, Damas, se tenho amado:
Ou se senti mil tochas abrasantes,
Fadigas mil, mil dores penetrantes.
Se por chorar vi meu tempo esgotado,
Ah! Que meu nome não seja acusado.
Se eu falhei, sofro as penas atuantes,
Não aguceis os ferrões acirrantes:
Pensai que Amor, quando tiver chegado,
Sem vosso ardor de um Vulcano escusar
Sem a beleza de Adonis usar,
Vos tornará talvez mais amorosas.
Mesmo com menos do que tive então,
Será estranha e forte essa paixão.
E não sejais portanto desditosas.
Louise Labé ocupou um espaço que era considerado masculino. Seus desejos escaparam ao silêncio e ganharam expressões apaixonadas. E parece também ter se sentido perfeitamente à vontade na condição de mulher.
Sa vida pessoal e suas idéias sobre a condição feminina indicam que “la Belle Cordière foi uma dessas feministas abstratas e individualistas, cujo papel histórico foi servir de exemplo, mostrar que uma mulher poderia, sem decair, dedicar-se a ocupações até então reservadas aos homens.
Na Epístola Dedicatória refere:
Tendochegado o tempo, em que as severas leis dos homens não mais impedem as mulheres de se aplicarem às ciências e ao ensino parece-me que aquelas que têm oportunidade devem empregar esta honesta liberdade que nosso sexo antigamente tanto desejou para cultivá-los; e mostrar aos homens o dano que eles nos fi zeram ao nos privar do bem e da honra que daí pode advir. Se alguma de nós colocar por escrito as suas idéias, que o faça com aplicação e não desdenhe a glória, e se adorne com ela, mais do que com
colares, anéis e suntuosos vestidos, que não podemos considerar verdadeiramente nossos senão quando os usamos.

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