sábado, 26 de março de 2011

Ψ O Animal no Sonho

  imagem: n.r.parker
                                                         
Na interpretação dos sonhos deve-se observar:
Símbolos naturais
– derivados dos conteúdos inconscientes da psique individual.
Símbolos culturais – símbolos usados para expressar verdades eternas”, imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas.
Símbolos arquetípicos – símbolos comuns a todos nós desde os primórdios da humanidade.

- Animal, enquanto arquétipo, representa as camadas profundas do inconsciente.
- São símbolos das forças cósmicas, materiais ou espirituais, a exemplo dos símbolos do Zodíaco, que evocam as energias cósmicas.
- Alguns deuses egípcios têm cabeças de animais e o Espírito Santo é representado por uma pomba. A pomba corresponde à razão na sua apreensão do mundo visível, enquanto a rola, amante da solidão, procura a realidade invisível.
- Na religião celta os animais possuem um elevado valor simbólico: o javali simboliza a função sacerdotal, o urso a função real; a ave, mensageiros do outro mundo.
- O cavalo exerce a função de psicopompo, guia das almas ou do neófito através do labirinto da vida.
- O animal em nós é essencialmente a libido primitiva e bruta, o conjunto de forças profundas que nos animam.

- Jung, em "O homem e os seus símbolos", afirma: "O animal, que é no homem a sua psique instintiva, pode tornar-se perigoso, quando não é reconhecido e integrado na vida do indivíduo. A aceitação da alma animal é a condição da unificação do indivíduo, e da plenitude do seu desabrochamento".
- Os animais que aparecem nos sonhos e nas artes, formam identificações parciais com os homens: são aspectos e imagens da sua natureza complexa, espelhos das suas pulsões profundas, dos seus instintos domesticados ou selvagens.
- Cada um deles corresponde a uma parte de nós próprios, integrada, ou a integrar.
- boi: docilidade, humildade, gratidão; aprender a louvar os caminhos dos outros (o boi se sacrifica para nutrir).
- Já o touro, lembra virilidade, sensualidade, um alerta à sexualidade reprimida.
- cabra: segue seu impulso.
- carneiro: evoca o Logos por causa do seu carácter macho e ativo.

- gato: a imagem evoca flexibilidade, disponibilidade para a transformação, plasticidade da conduta, da feminilidade, do mistério; Independência, é ele que nos escolhe... Se um gato aceitar seu carinho na certa você é um privilegiado, ou do contrário, ele foge e se encolhe...., a leitura do felino é direto na alma. 
- Numa abordagem psicológica diz-se que o animal irracional somos nós, as energias vitais do instinto que se agitam em nós, e que por vezes tomam o comando e nos controlam.
- Os animais são aspectos obscuros, perigosos e instintivos de nosso inconsciente e se a anima/ animus aparece como um animal, é porque ela/ele ainda não é aceito pelo ego vígil em sua totalidade de aspectos.
- Quanto mais livres e selvagens forem, mais o subconsciente se sente oprimido pelos seus temores, angústias e complexos.

- Quando ferozes e que atacam, simbolizam perigosas tendências agressivas.
- Os animais violentos têm aspectos sexuais e simbolizam conflitos eróticos.

- A fuga, equivale a fugir do próprio subconsciente.
- Domesticá-los é tentar controlar os instintos mais primitivos como a libido ou os conteúdos do subconsciente infantil que permanecem.

- Os animais domésticos equivalem a paixões controladas. Um cachorro revela desejo de afeto materno.
- Animais mágicos aparecem via de regra, como uma simbolização do pai.
- Assim, a sonhar que você está lutando com um animal significa uma parte oculta de si mesmo que você está tentando rejeitar e empurra para trás em seu subconsciente.

- Quando o ego onírico encontra-se sacrificando um animal, isso simboliza que é uma parte do ego vígil que vai ser sacrificada, a sua instintividade.
- A espécie de instinto que está se manifestando através dessa imagem é o que está associado ao animal específico,  o leão como uma representação do instinto do leão; o urso, o tigre...

- Entretanto, se o ego onírico acaricia o animal que o ego vigil teme, refere simbolicamente a repressão cultural do incesto.
- Animais deformados, denunciam a concepção desagradável que o sonhador tem do instinto.

- leão: a crina flamejante, sol dos mais fortes calores do verão, poder do fogo criador e destruidor, é a imagem da paixão devoradora; livre por natureza.

- Nietzsche sobre o leão: "(...)  violento, solitário, ímpio, assim deve ser o querer leonino. Libertado de uma felicidade servil, dos deuses e dos cultos, sem medo, terrível, grande e solitário, assim deve ser o querer do verdadeiro. É no deserto que sempre viveram os verdadeiros, tal como os espíritos livres, senhores do deserto".
- cavalo: a liberdade dos impulsos, o reconhecimento das pulsões naturais ou a revolta contra o peso existencial, pode evocar imagens de resignação, de derrota. É guia dotado da clarividência do instinto. Convida a uma reabilitação das pulsões recalcadas. O cavalo onírico é revelador de uma animação psíquica, da reorganização dos fluxos energéticos.
- cavalo-marinho: evoca os valores da água (o inconsciente, aspectos da valores da feminilidade, intuição, emoções e sentimentos ).
- Os peixes: “o silêncio do mar” ... a alma sente o mundo aquático como o mundo em que reina, o silêncio. O simbolismo do peixe conduz-nos a uma longa viagem. Todas as grandes revelações religiosas estão marcadas pelo símbolo do peixe é o emblema de Cristo e sua Igreja. Esta pele que ninguém pode ferir é a fronteira que ninguém pode atravessar sem o auxílio do peixe-guia, do impulso vital autêntico, da lucidez que conduzirá aos tesouros do inconsciente, evitando os perigos da dispersão esquizofrénica.
 - golfinho: traz o sonhador do limiar do outro mundo até à luz, à vida, basta evocá-lo para sentir a alma mais leve. Pode ser considerado o agente mais seguro para reativar a dinâmica vital do ser humano.


Jung refere: "Todos aqueles que passam por esta experiência, que sabem que o tesouro repousa na profundeza das águas e que irão tentar extrai-lo de lá, nunca devem, sob preço algum, esquecer quem são, perder a sua consciência…"
Referência Bibliográfica:
 BACHELARD,G.  -  O Ar e os Sonhos. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1990.
HILLMAN, J. - Cidade e Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993. The Dream and the Underworld. New York: Harpercollins, 1979.
LÉVI-STRAUSS,C. - O Pensamento Selvagem. Campinas,SP. 1989.
JEAN ChHEVALIER; Alain Gheerbrant - Dicionário dos Símbolos. Lisboa, Ed. Teorema, 1994.
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

4 comentários:

gisele disse...

Gostei do texto, apesar de querer saber mais, é um dos melhores q achei no google

psique disse...

Oi Gisele, agradeço sua visita, bjo Fatima Vieira

Unknown disse...

Excelente. Grata por compartilhar. Poste mais textos desse tema. Ajuda muita gente.

Anônimo disse...

Muito bom. Obrigada!