domingo, 6 de fevereiro de 2011

Alberoni - porque o saber é ciência, mas o amor é poesia

Do Livro: Lições de amor - Sua linguagem é científica e poética. “Porque o saber é ciência, mas o amor é poesia”, diz Alberoni.
As perguntas vão desde questionamentos que parecem um inocentes (“como pode uma única pessoa proporcionar a alguém mais felicidade que muitas outras?” ou ” a medicina pode nos curar do mal do amor?”) a outras, mais maduras (“O amor é sempre possessivo, é sempre uma obsessão?” ou “O orgasmo feminino é favorecido pelo amor?”). O livro é dividido em temas: enamoramento e amor; do amor à primeira vista ao amor completo; o sexo e o amor; o passado; enamoramento e deslumbramentos passageiros; o prazer; erotismo masculino; erotismo feminino; o casal; quando o amor acaba; amantes; o jogo do amor.
Existe amor à primeira vista?
Não, não existe. O enamoramento pode começar com um olhar, quase como uma descarga elétrica, mas nunca deixa de ser um processo com questionamentos, dúvidas, momentos de exaltação e de incerteza.
Existem pessoas que nunca se apaixonam?
Sim, sem dúvida. Todos nós possuímos defesas contra o enamoramento. Não queremos baixar a guarda, não desejamos nos entregar. Há pessoas que se defendem de forma tão perfeita que nunca se apaixonam. Na maioria das vezes, trata-se de alguém que sofreu graves frustrações na infância. (…)
A sexualidade, no amor, tem a mesma importância para todos?
Não. Todas as pessoas apaixonadas tendem a fundir-se eroticamente, mas em algumas delas o foco central do relacionamento não é a sexualidade. Há outras, por sua vez, cuja carga erótica é muito forte e então, quando estão apaixonadas, experimentam uma verdadeira fusão entre sexo e amor, razão pela qual qualquer coisa que façam tem um toque de erotismo. (…)
Os não ciumentos não amam?
Quando amamos, queremos que o nosso parceiro nos ame de forma exclusiva, e se, porventura, recearmos que o objeto do nosso amor prefira, ainda que momentaneamente, outra pessoa, então ficamos ciumentos. Quando não amamos, não nos importamos com o fato de o outro não amar somente a nós, de não desejar só a nós. Mas seria um erro pensar que, quanto mais amamos, mais nos tornamos ciumentos. (…) O ciúme quase não existe quando se tem certeza do amor (seja isto verdade ou apenas uma percepção subjetiva).
Pode haver prazer sem orgasmo?
Pode. A nossa tradição sempre considerou o orgasmo fundamental. (…) O prazer pode ser mais duradouro que o orgasmo, como ensinam muitas culturas orientais.
A sexualidade do casal precisa de constante exercício?
Sem sombra de dúvida. É fundamental que duas pessoas casadas continuem a fazer amor e não se deixem tentar pela ideia de ficar adiando. O erotismo, como qualquer outra atividade humana, só existe enquanto for exercido e aprimorado. (…) Muitos casais transformam seus corpos em objetos inertes, e o mais triste é que às vezes o motivo é a preguiça.
É possível apaixonar-se pela internet?
De verdade, não. Pode ser um começo, um ponto de partida do processo (…). Somente através do relacionamento e do contato pessoal poderemos saber se o que havíamos percebido e intuído era real. A prova final e definitiva do amor é o corpo.A paixão é, ainda, exclusivista. Seu objetivo é um só e não pode ser substituído. A paixão exige total dedicação. No entanto, pode ser unilateral, isto é: pode não ser correspondida e cria, também, o tempo e o espaço míticos.
(... ) determinadas datas, determinados lugares são considerados “sagrados” pelo par enamorado. São “seus”, estão ligados a origem da paixão e são comemorados seguidamente tendo a função de reativar os sentimentos.
A paixão se alimenta da tensão criada pela diferença que se deseja igualdade. Desejamos a diferença do outro porque é ela que nos atrai, por abrir novos horizontes de vida. Ao mesmo tempo, porém tentamos limitar essa diferença, para nos sentirmos seguros.
O ser amado é sempre força vital livre, imprevisível e polimorfo. E o próprio fato de ser imprevisível que nos faz sentir ciúmes em função do medo da perda. Aquele que for o mais inseguro do casal começa a estabelecer para o outro, limites cada vez mais estreitos que funcionam como provas de amor, a exigir renúncias numerosas a fim de tornar o parceiro um ser dócil, inócuo, domesticado.

E o fim da paixão, como é sentida?
Assim: O outro aceita, renuncia a amizades, programas, viagens, às vezes até a profissão. Muda o comportamento e a aparência pra manter o amado feliz, transforma-se na imagem desejada por ele, perde a individualidade, a liberdade de ser e escolher.
O parceiro, por sua vez, se vê seguro, mas diante de uma pessoa que não mais o interessa, que não aponta mais para novas possibilidades de vida, que não tem mais força vital pela qual se apaixonou.
Este é o fim da paixão e o começo da desilusão e do rancor, isto é, o momento em que a paixão alegre degenera em paixão triste.

Sociólogo italiano, Francesco Alberoni nasceu em 1929, em Piacenza, Itália. Licenciado em medicina pela Universidade de Pavia, estudou psicanálise. Tornou-se professor de sociologia em 1964. Desenvolveu uma teoria dos movimentos coletivos, patente nos seus livros Estado Nascente (1968) e Movimento e Instituição (1977). Aqui, Alberoni explica o processo histórico como o resultado de dois tipos de forças: por um lado, as utilitárias e econômicas, que transformam e inovam mas não criam solidariedade social, e, por outro, as representadas pelos movimentos, que só podem surgir da solidariedade social.
Obras: Enamoramento e Amor; A Amizade; O Erotismo; Público e Privado; Altruismo e a Moral; Invejosos; O Vôo Nupcial; Valores; O Optimismo; O Primeiro Amor; Tenham Coragem; Nascentes dos sonhos; Saber Decidir; O Mistério do Enamoramento; Sexo e Amor; Sexo e Amor; Lições de Amor; Amo-Te.

Nenhum comentário: