domingo, 17 de outubro de 2010

Ψ a histeria é capaz de imitar qualquer doença...

 arch of Hysteria/ Arco da Histeria”, 1993, escultora francesa Louise Bourgeois

O QUE É CONVERSÃO? Todo sintoma neurótico é substituto de uma satisfação instintiva; como a excitação e a satisfação são fenômenos que se exprimem de maneira física, o salto para a esfera física, característico da conversão, não se afigura tão estranho.

 "Os sintomas de conversão não são contudo, meras expressões somáticas de afetos, e, sim, representações muito específicas de pensamentos, que é possível reproduzir da respectiva 'linguagem somática' para a linguagem verbal original".(Ajuriaguerra)

*O problema dos sintomas de conversão pode ser abordado pela comparação com os ataques emocionais, ou ataques de afetos. Estes, ocorrem quando estímulo intenso temporariamente subverte o controle do ego sobre a motilidade e uma síndrome arcaica de descarga substitui atos intencionais (síndromes desta ordem podendo, mais tarde, ser amansadas e usadas pelo ego restabelecido).

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Os sintomas de conversão também se caracterizam pelo rompimento repentino do controle do ego sobre a motilidade e pelas síndromes de descarga física involuntária.

*Nas síndromes de conversão, a análise mostra onde se originam: são historicamente determinadas por experiências reprimidas do passado individual; representam expressão distorcida de exigências instintivas que foram reprimidas; e o tipo específico da distorção é determinado pelos acontecimentos históricos que criaram a repressão.

*ATAQUES HISTÉRICOS: É nos grandes ataques histéricos, que melhor se demonstra a possibilidade, de retraduzir da sua linguagem somática para a linguagem verbal original os sintomas de conversão; ataques que são expressões pantomímicas de histórias fantásticas que, por vezes, se mostram realmente complicadas. Podemos analisá-los em todos os pormenores, do mesmo modo que analisamos os sonhos; e vemos que usam os mesmos mecanismos de distorção que estes últimos.

*Se forem analisados os "pensamentos latentes do ataque", tal qual se analisam "os pensamentos latentes dos sonhos" a partir de um sonho manifesto, vê-se que eles representam mistura de elementos de fatos esquecidos e de histórias oníricas fantásticas, as quais se terão construídas em torno dos fatos.

*Estes pensamentos são expressões distorcidas do Complexo de Édipo e dos respectivos derivados. Há vezes em que os ataques mostram com toda a clareza que estão substituindo uma gratificação sexual podendo terminar em estados semelhantes ao orgasmo. Freud comparou a perda da consciência que ocorre no auge do ataque à perda momentânea da consciência que se constata no auge do orgasmo.

 *Por outro lado, muitas vezes não estão diretamente ligadas ao contato sexual ou à sedução; pelo contrário, os devaneios giram mais em torno de algum aspecto relacionado com a gravidez e o parto.

*O exemplo clássico nos casos muito bem conhecidos de gravidez histérica e vômitos histéricos, são desta natureza.

 
*Há vezes em que as manifestações dos ataques são muito menos específicas, ocorrendo com aspectos de convulsões (transtornos motores) ou de emoções, disposições de ânimo exagerados ou inteiramente imotivados, na aparência;

*O grito histérico, pode exprimir emoções muito diferentes; há vezes em que o tipo de grito por si só indica a sua natureza: pode ser grito infantil que pede socorro; pode exprimir o desamparo de uma mulher sexualmente atacada.

*O riso que se vê em ataques exprime o triunfo pela realização fantástica de desejos hostis.


*Relacionados com os ataques são aqueles sintomas de conversão que consistem no aparecimento ou desaparecimento patológico das necessidades fisiológicas normais: ataques de fome ou sede, necessidade de defecar ou urinar; falta repentina de apetite ou sede; constipação ou oligúria; e ainda dificuldades respiratórias.


*A fome, a sede, as necessidades excretórias substituem, às vezes, os desejos sexuais. A anorexia , é a negação do desejo sexual. A constipação exprime em certos casos, desejos de gravidez.
 

*CONVERSÕES MONOSSINTOMÁTICAS: A base histórica de todos os sintomas de conversão é, muitas vezes, evidente nas conversões monossintomáticas. Em lugar de uma recordação, uma inervação ocorre que, na realidade, se passara na situação esquecida.
 *A primeira paciente de BREUER, Anna O., ficava com o braço paralítico sempre que inconscientemente, era lembrada dos seus sentimentos para com o pai. A hora em que este morreu, estava à sua cabeceira, com o braço apertado contra a cadeira, junto à cama.

 *É errado chamar os transtornos psicofisiológicos de histerias monossintomáticas, o que com frequência se faz. Assim as neuroses cardíacas são de fato, em muitos casos, histerias monossintomáticas de conversão, ligadas a devaneios inconscientes específicos. Vemos as histerias monossintomáticas demonstrarem muitas vezes, os conceitos ferenczianos de "materialização" e "genitalização" histéricas.

*DORES HISTÉRICAS e IDENTIFICAÇÃO HISTÉRICA:
Os sintomas de conversão são processos contínuos de descarga, que se apresentam em lugar de impulsos inibidos da sexualidade infantil, a que se ligam mediante associações inconscientes.
Um primeiro tipo de dor histérica , diz FREUD, "estava de fato presente na situação em que se deu a repressão". 


*Naqueles casos em que a dor original foi experimentada pelo próprio paciente, a repetição da algia no sintoma de conversão substitui a excitação agradável, que de algum modo se associou; a dor, já agora, é ao mesmo tempo sinal de advertência a que não se ceda àquelas sensações prazerosas.

 *As doenças da infância são frequentemente episódios que impressionam muito no desenvolvimento de conflitos instintivos presentes em certa criança: por vezes, com a índole de satisfação (ganhar mais amor dos pais ou experimentar o corpo de maneira nova); mais comumente, com a índole de ameaças (a doença será percebida como castração ou como punição à masturbação).

 *De um modo geral mantém-se a seguinte formulação: Sempre que um transtorno funcional se haja associado a conflito emocional da infância e sempre que este último tenha sido reprimido, toda alusão posterior quer ao transtorno funcional, quer ao conflito emocional, será capaz de mobilizar ambos os componentes da síndrome inteira; O conflito emocional se transforma na força inconsciente impulsora dos sintomas de conversão. 

 *Num segundo grupo de dor histérica, os sentimentos originais que se imitam nos sintomas de conversão podem, haver sido experimentados não pelo paciente, e, sim, por outra pessoa que ele imita com a produção do seu sintoma. 

*Conforme sabemos, A HISTERIA É CAPAZ DE IMITAR TODA E QUALQUER DOENÇA.

*A IDENTIFICAÇÃO
exprime o desejo de estar no lugar de outra pessoa, o caso mais simples é a identificação histérica é com o "rival afortunado", aquela pessoa que o paciente inveja e cujo lugar gostaria de estar.

- O mecanismo de punição de MIDAS observa-se com frequência em todos os tipos de neuroses; nas neuroses obsessivas ainda maior que nas histerias.

 
*A OBSESSÃO pode exprimir a seguinte ideia: "Terás o que desejaste, mas de um modo, em um grau ou em num momento em que te destruirá."

 *Outro exemplo: certa mulher cuja histeria resulta de seu COMPLEXO DE ÉDIPO, faz identificação não com a rival a mãe, e sim com o pai.

*Quando assume a doença do pai, a histérica mostra que está tentando, em vão, libertar-se dele. A sua histeria imitava a tuberculose que na mocidade, afetara o pai. Ela adotara a mesma profissão do pai e aproximava-se muito do homossexualismo manifesto.
 


*Também existem as "identificações múltiplas", sobretudo nos ataques convulsivos. Uma paciente é capaz de, simultânea ou sequencialmente, representar o papel de várias pessoas com quem se tenha identificado, segundo qualquer dos tipos que descrevemos, as convulsões destes tipos de pacientes constituem, muito comumente, a representação de todo um drama. Clímax de identificações múltiplas mostra-se no caso famoso de "personalidade múltiplas"

*TRANSTORNOS MOTORES HISTÉRICOS: "A paralisia motora é defesa contra a ação", contra atos sexuais infantis que são censuráveis. A paralisia histérica acompanha-se de aumento de tônus, o que representa tanto garantia contra o ato sexual censurável quanto substituto distorcido deste último. É frequente ver "equivalentes masturbatórios" assumirem esta aparência.

*As condições históricas e a facilitação somática, determinam qual é a parte específica da musculatura que será afetada pela paralisia.
 
*O mutismo histérico é caso de paralisia histérica, podendo exprimir hostilidade ou angústia, em relação às pessoas em cuja presença se desenvolve o sintoma; ou podendo exprimir desinteresse geral pelas pessoas com quem haveria possibilidade de conversar.
*FACILITAÇÃO SOMÁTICA: Em todos os sintomas descritos, a catexia total dos impulsos censuráveis parece condensar-se em certa função física definida.
 
 *A escolha da região acometida é assim determinada: Pelas fantasias sexuais inconscientes e erogeneidade correspondente, as fixações dependem de fatores constitucionais e de experiências passadas.

 
*E também são determinadas por fatos puramente físicos, acomete o órgão que já tenha uma fraqueza constitucional ou por uma doença adquirida.

*Quem tiver fixações orais desenvolverá sintomas bucais; O que melhor exprime tendências incorporativas são a boca, o aparelho respiratório, a pele; as fixações anais sintomas anais... as tendências eliminatórias são melhor expressas pelo trato intestinal e também pelo aparelho respiratório.

 
*Há uma "FACILITAÇÃO SOMÁTICA" que opera, em casos denominados "SUPERESTRUTURA HISTÉRICA DE DOENÇAS ORGÂNICAS".

*F44 - TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS: Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais. 

 
*Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algu
mas semanas ou meses, quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes transtornos eram classificados entre diversos tipos de "histeria de conversão".

  *Admite-se que sejam psicogênicos, dado que ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações interpessoais difíceis.


 *Os sintomas traduzem a ideia que o sujeito se faz de uma doença física. O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em evidência um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Por outro lado, dispõe-se de argumentos para pensar que a perda de uma função é, neste transtorno, a expressão de um conflito ou de uma necessidade psíquica.

*Os sintomas podem ocorrer em relação temporal estreita com um "stress" psicológico e ocorrer frequentemente de modo brusco. Os transtornos que implicam manifestações dolorosas ou sensações físicas complexas que fazem intervir o sistema nervoso autônomo, são classificados entre os transtornos somatoformes (F45.0).

*INCLUI-SE NESTA CLASSIFICAÇÃO:
histeria, histeria de conversão, reação histérica, psicose histérica; Exclui: simulador [simulação consciente] (Z76.5);
F44.0 - Amnésia dissociativa
F44.1 - Fuga dissociativa
F44.2 - Estupor dissociativo
F44.3 - Estados de transe e de possessão
F44.4 - Transtornos dissociativos do movimento
F44.5 - Convulsões dissociativas
 

F44.6 - Anestesia e perda sensorial dissociativas
F45 - Transtornos Somatoformes

F45.0 - Transtorno de somatização

Referência Bibliográfica: FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses
Psiqweb
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

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